Confira os vídeos da série

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Todos Pela Intolerância, texto de Tobias Santos Teixeira











Crônica de Tobias Santos Teixeira, na nossa coluna Artífices da Palavra. 

Tobias, arranjador e preparador vocal e musical da Cia. Crônica de Teatro. Ativista cultural e incansável articulador da cultura independente em Contagem, também dedica a vários trabalhos na área da música. É professor do município de Betim (MG) formado em música.






Todos Pela Intolerância!
de Tobias Santos Teixeira

É inadmissível um jovem nos dias de hoje não ter a mínima noção de limites, e o cidadão de bem ter de conviver com ele nas ruas, nas festas, às vezes até dentro de casa!

Mas o que é realmente inadmissível? Não termos o mínimo senso de equilíbrio com a natureza, sujando a água antes de bebê-la, ocupando o solo retirando toda a riqueza de recursos e de seres vivos. Não darmos o exemplo pros jovens antes de cobrar limites e atitudes cidadãs, não mostrarmos o mínimo cuidado com o próximo, com demonstrações de corrupção e violência no comércio, no trabalho, na política, na justiça, na igreja, na família. E é inadmissível não cuidarmos da juventude, que está em grande parte abandonada, e depois culpá-la pelo modo como se vira sozinha.

Será que existe algum simbolismo relacionado à semana santa? Será que estamos tão permeados assim pela crença de que uns tem de se sacrificar para os outros serem salvos?

A intenção deste texto seria mostrar a contradição que é botar a culpa no jovem enquanto não damos nenhuma referência de ética ou cidadania pra ele. Mas fica um desgaste até em argumentar, pois não existe um respeito pela discussão. As decisões sobre os caminhos da sociedade são oportunistas, atendem a interesses de quem tem poder econômico, de persuasão, de manipular informações, e reforçam justamente as ações injustas que são necessárias para se acumular esse poder.

Já que o exercício em voga é o da intolerância, que tal sermos intolerantes com toda falta de racionalidade e sensibilidade? Intolerância a tudo que põe em xeque nossa vida neste planeta. Intolerância ao sofrimento gratuito promovido por guerras e disputas econômicas. Intolerância à segregação por credo, etnia, sexualidade, julgamentos de valor de toda espécie. Intolerância às revoluções de fachada que nunca mudam realmente o ser humano e não nos tiram do lugar cômodo. E sejamos intolerantes sobretudo com justificativas para excluir e marginalizar sujeitos como se não tivessem o mesmo direito de participar da história dessa humanidade.

Toleramos ricos que roubam, mas pobres não. Toleramos toda mentira vinda de gente importante, nos enganamos indo na onda deles sobre o que é melhor pro país. Os sensatos e honestos, vemos serem ridicularizados e não fazemos nada, mesmo quando se trata de nossa água, de nossa saúde, de nosso dinheiro, nossa liberdade de ir e vir. Violência? Ninguém gosta quando é contra ele, até onde eu saiba! Mas se vem de cima, sempre há uma justificativa, dizemos que não havia outra saída. Se vem de baixo, da ralé, de gente que é a mesma bosta que a gente, ah, responde-se na mesma moeda, de acordo com a força de cada um, é ou não é? Se um sofre mais violência do que o outro, tolera-se, pois assim é o mundo.

Reduzir a maioridade penal é um reflexo de nossa inabilidade em enfrentar de frente as raízes dos problemas que temos com a juventude, e da nossa cabeça dura em não olhar pros problemas da juventude. Cada um preocupado com si mesmo, resultando na radicalização de um sistema baseado na pressão social. Ignoramos que o problema é nosso, e falhamos  mais uma vez ao não tentar tornar esses jovens parte da solução.

2 comentários:

Vinícius disse...

Perfeito, Tobias! Parabéns. Assim como apresenta razoáveis e lúcidos argumentos sobre o tema em questão, imagino que teria a mesma razoabilidade e lucidez para tratar de outros temas sociais, continue escrevendo e argumento, enquanto ainda temos nossa democracia cínica. Abraço, Vinícius Fernandes Cardoso, poeta de Contagem-MG

Unknown disse...

Muito obrigado Vinícius. Vou tentar manter minha caneta trabalhando.