Confira os vídeos da série

quarta-feira, 15 de abril de 2015

A Cia. Crônica de Teatro volta a realizar ensaios na rua após ter espaço fechado

Ensaios, reuniões e atividades de formação da companhia passarão a acontecer em Praça Pública de Contagem (MG), mais pelo descaso, do que por escolha.

Para a Cia. Crônica essa noticia poderia ser dada apenas como uma expressão de nosso desejo e alegria, de nossa vontade latende de sempre compartilhar processos de criativos e nossas relações de trabalho. Mas infelizmente, a realidade não é bem esta. Corremos o risco de sermos expulsos sermos expulsos de vez do espaço onde realizávamos nossas atividades, a Casa do Movimento Popular que se encontra fechada com todos os nossos materiais desde dezembro. A necessidade de (r)existir com um teatro critico, popular e comprometido com a nossa realidade social continua nos motivando e nos dando forças.
Foto da Peça Coragem, releitura de Mãe Coragem e Seus Filhos de Bertolt Brecht, construída dentro da Casa do Movimento Popular.
A realidade do teatro Brasileiro é a do descaso do poder público, da mercantilização e precarização do trabalho artístico, da falta de acesso para a maioria esmagadora da população e, neste momento em Contagem (MG), sentimos ainda mais esta realidade. Mesmo sendo uma das companhia mais atuantes na cidade, não só com espetáculos mas também com cursos e oficinas que formam dezenas de pessoas anualmente, nos encontramos sem nenhum apoio do poder público, sem nenhuma lei de “isentivo a cultura”. Hoje sobrevivemos das relações de troca e compartilhamento entre nós mesmos, do desejo de nos manter vivos e abertos à quem quiser trabalhar e lutar, com e pelo teatro.  Nossos atores a trizes se submetem a dupla ou tripla jornada de trabalho para submetem suas famílias e seus sonhos: Em fábricas, comercio, hospital, escolas públicas e ainda tem o trabalho doméstico que pesa mais sobre as atrizes que são mães e mesmo assim saem de casa em busca de suas vontades e direitos de ocupar o lugar de protagonismo nas nossas criações critica. Sobrevivemos a mais de cinco anos saindo e votando para a rua muito mais pelo descaso do que pela escolha.

Neste momento especificamente estamos na rua porque o espaço em que realizávamos nossas atividades, a “Casa do Movimento Popular” foi fechada por pessoas ligadas a um grupo politico que deseja usar do local passando por cima de sua função social. A Casa do Movimento Popular é um importante espaço da cidade construído em meio à muitas lutas operárias ainda na época da ditadura militar. A anos o local estava fechado e juntos de outros movimentos e grupos e independentes realizávamos neste espaço, um trabalho de reativação e acolhimento de diversas atividades culturais, educacionais e sindicais da cidade. Em menos de um ano de mobilização e trabalho coletivo, a Casa se tornou um espaço de referência para artistas e população em geral. Em detrimento de uma parceria com a OAB, para a instalação de uma suposta TV “Comunitária”, fomos botados pra fora sem nenhum dialogo e junto de nós, dezenas de grupos e atividades. No entanto ainda aguardamos uma resposta sobre essas ações autoritárias de um grupo politico.
Foto da Peça Coragem, releitura de Mãe Coragem e Seus Filhos de Bertolt Brecht, construída dentro da Casa do Movimento Popular.
Desde o mês de dezembro estamos sem acesso ao local. Nossos figurinos, cenários e até documento estão trancados. As chaves foram trocadas, um muro de lata foi construído na estrada e um vigia noturno foi contratado. Não tivemos sucesso em nenhum pedido de reunião com esse grupo politico, que é responsável por essa medida de aparelhamento de um espaço que deve servir aos movimentos populares. E ainda, omo é uma associação da cidade e região metropolitana, o local deveria realizar eleições e para qualquer intervenção estrutural, deveriam ser realizadas assembleias convocadas de forma ampla (como rege o estatuto). No entanto o que estamos vivendo não é isso, a casa esta em obra e a direção gira entre as pessoas de um grupo politico que não divulga, não integra as pessoas nos processos, não respeita o estatuto, nem a história e função social do local.  CLICANDO AQUI VOCÊ PODE ENTENDER MELHOR O QUE ESTÁ ACONTECENDO.

Estamos na rua, enfrentando essa realidade de completo descaso e desrespeito. Mesmo assim, manteremos nossas atividades de formação, nossas apresentações em locais não convencionais, retornaremos nossos ensaios e colocaremos nossa adaptação de Mãe Coragem de Bertolt Brecht (Também espetáculo de rua) para rodar. O teatro popular, critico e dialético deve resistir e se reinventar na luta cotidiana pela sua sobrevivência no contato direto com o povo. Estamos na rua e a rua sempre foi nossa indenidade, e luta também!

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Todos Pela Intolerância, texto de Tobias Santos Teixeira











Crônica de Tobias Santos Teixeira, na nossa coluna Artífices da Palavra. 

Tobias, arranjador e preparador vocal e musical da Cia. Crônica de Teatro. Ativista cultural e incansável articulador da cultura independente em Contagem, também dedica a vários trabalhos na área da música. É professor do município de Betim (MG) formado em música.






Todos Pela Intolerância!
de Tobias Santos Teixeira

É inadmissível um jovem nos dias de hoje não ter a mínima noção de limites, e o cidadão de bem ter de conviver com ele nas ruas, nas festas, às vezes até dentro de casa!

Mas o que é realmente inadmissível? Não termos o mínimo senso de equilíbrio com a natureza, sujando a água antes de bebê-la, ocupando o solo retirando toda a riqueza de recursos e de seres vivos. Não darmos o exemplo pros jovens antes de cobrar limites e atitudes cidadãs, não mostrarmos o mínimo cuidado com o próximo, com demonstrações de corrupção e violência no comércio, no trabalho, na política, na justiça, na igreja, na família. E é inadmissível não cuidarmos da juventude, que está em grande parte abandonada, e depois culpá-la pelo modo como se vira sozinha.

Será que existe algum simbolismo relacionado à semana santa? Será que estamos tão permeados assim pela crença de que uns tem de se sacrificar para os outros serem salvos?

A intenção deste texto seria mostrar a contradição que é botar a culpa no jovem enquanto não damos nenhuma referência de ética ou cidadania pra ele. Mas fica um desgaste até em argumentar, pois não existe um respeito pela discussão. As decisões sobre os caminhos da sociedade são oportunistas, atendem a interesses de quem tem poder econômico, de persuasão, de manipular informações, e reforçam justamente as ações injustas que são necessárias para se acumular esse poder.

Já que o exercício em voga é o da intolerância, que tal sermos intolerantes com toda falta de racionalidade e sensibilidade? Intolerância a tudo que põe em xeque nossa vida neste planeta. Intolerância ao sofrimento gratuito promovido por guerras e disputas econômicas. Intolerância à segregação por credo, etnia, sexualidade, julgamentos de valor de toda espécie. Intolerância às revoluções de fachada que nunca mudam realmente o ser humano e não nos tiram do lugar cômodo. E sejamos intolerantes sobretudo com justificativas para excluir e marginalizar sujeitos como se não tivessem o mesmo direito de participar da história dessa humanidade.

Toleramos ricos que roubam, mas pobres não. Toleramos toda mentira vinda de gente importante, nos enganamos indo na onda deles sobre o que é melhor pro país. Os sensatos e honestos, vemos serem ridicularizados e não fazemos nada, mesmo quando se trata de nossa água, de nossa saúde, de nosso dinheiro, nossa liberdade de ir e vir. Violência? Ninguém gosta quando é contra ele, até onde eu saiba! Mas se vem de cima, sempre há uma justificativa, dizemos que não havia outra saída. Se vem de baixo, da ralé, de gente que é a mesma bosta que a gente, ah, responde-se na mesma moeda, de acordo com a força de cada um, é ou não é? Se um sofre mais violência do que o outro, tolera-se, pois assim é o mundo.

Reduzir a maioridade penal é um reflexo de nossa inabilidade em enfrentar de frente as raízes dos problemas que temos com a juventude, e da nossa cabeça dura em não olhar pros problemas da juventude. Cada um preocupado com si mesmo, resultando na radicalização de um sistema baseado na pressão social. Ignoramos que o problema é nosso, e falhamos  mais uma vez ao não tentar tornar esses jovens parte da solução.