ESPETÁCULO DE CRIAÇÃO COLETIVA I Elenco: Jessé Duarte, Kaká Pimentta e Warlen Dimas I Direção: Jessé Duarte I Dramaturgia: Rogério Coelho I Preparação Vocal: Nil Duarte I Preparação Corporal: Robson Nunes I Iluminação: José Reis I Execução Musical: Rogério Coelho e elenco I Trilha Sonora: Criação Coletiva I Fotografia: Ricardo Malagoli e Tavos Mata Machado I Vídeo: Ricardo Malagoli e Diego David.
Estômago é resultado de um processo de criação coletiva da Cia. Crônica de Teatro. Estreou em janeiro de 2011 em uma temporada itinerante pela cidade de Belo Horizonte e região. Com direção de Jessé Duarte que também compõe o elenco, a montagem traz em cena Kaká Pimentta e Warlen Diamas, além de Rogério Coelho que faz a da execução musical também e assina a dramaturgia.
O espetáculo narra o cotidiano de uma fabrica que produz transformações e traz a tona de forma crítica e bem humorada, uma reflexão sobre os acontecimentos históricos e sociais relacionados à vida do trabalhador brasileiro. Num lugar estranho onde é proibida a entrada de comida e papel higiênico, alguns operários recebem os novos funcionários recém contratados. Em meio aos treinamentos são produzidos acontecimentos comuns do nosso cotidiano e escapam alguns absurdos invisíveis aos olhos da alienação gerada pelo trabalho. Enquanto isso é carnaval e tudo pode parar a qualquer momento, para dar passagem a algo de novo que esta para acontecer.
Apropriada pela ideologia dominante, a transformação é um produto em alta do mercado, é o princípio corrente das indústrias. Elas nasceram para transformar. Dá certo! Transformam matéria prima em produtos; frutas em sucos; minério em aço; brinquedos em desejos; aço em peças; peças em carros; horas em dinheiro; cultura em mercadoria; trabalhadores em horas; horas em trabalho; horas em dinheiro; trabalho em aço; aço em dinheiro; dinheiro em dinheiro.
SOBRE A MONTAGEM DO ESPETÁCULO ESTÔMAGO
A montagem do espetáculo Estômago trousse para o grupo, a urgência e a necessidade de entender o momento atual historicamente. Para projetar um futuro menos alienante e mortificante, em cena foram buscadas formas populares e acessível de expor uma realidade onde as relações estão submetidas a uma analise de classe onde existem interesses opostos sempre. As relações de opressão e exploração capitalista são trazidas à tona para serem entendidas dentro de uma perspectiva histórica em movimento constante.
O teatro épico-dialético, estudos e fundamentos de Bertolt Brecht serviram de referências para expor o cotidiano dos trabalhadores e suas contradições. A Cia. Crônica realiza seus trabalhos em meio à periferia industrial de Belo Horizonte e a poluição, o barulho das maquinas das fabricas e multinacionais que invadem constantemente a sala de ensaio foram provocações imediatas que interferiram diretamente na criação do espetáculo.
Dentro do processo de criação, o teatro de Brecht se mostrou atual por apontar caminhos que permitem o ator a expor um olhar crítico sobre a realidade em que esta inserido. Por isso se tornou ferramenta indispensável para criação do grupo. A força de seu pensamento dialético abre uma possibilidade de revelar as contradições do mundo atual, onde o completo relativismo sobre todas as coisas tem se tornado um freio para ações coletivas.
A montagem do espetáculo e sua temporada de estréia são realizadas com os benefícios do Fundo Municipal de Cultura da Lei Municipal de Incentivo a Cultura de Belo Horizonte. Em 2010 foi realizado um ensaio aberto seguidos de debate no projeto Grupo em Trama, (Idealizado pelo grupo trama de Teatro) que reúne grupos e artistas interessados em discutir o fazer teatral compartilhado. No mesmo ano realizou uma apresentação de Pré-estréia a convite da FAE/UFMG (Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerias) dentro do Ciclo de Conferencias Socialismo e Educação.
CONCEPÇÃO
Por que o teatro não poderia se apropriar da mais nobre arma do capitalismo? A mais-valia, ou melhor, o excedente de horas exploradas sobre o tempo real necessário para pagar os custos produção, que se apresenta de forma muito clara na peça com a proposta de que ela seja dividida; transformada em sonho, fantasia, desejo, vida e essência para os operários, quem a coloca nas mãos dos poderosos. Pretensioso, não?! Como delimitar tão friamente riqueza e pobreza; patrão e operário; capitalismo e socialismo?! O capitalismo, como vários estudos apontam, toma uma forma cada dia mais destradicionalizante. A ponto de não conseguirmos ver uma classe média, que viaja de avião mas não ganha o suficiente pra carne e pro pão.. lailá laiá... o patrão que está cada vez mais distante, e eu só vejo o coitado do chefe pedante... ou o pobre operário, que compra ação sonhando em ser sócio ultra-minoritário... laiá laiá... É verdade, dá até samba.
Enfim, como usar da arma mais conhecida de Brecht no teatro, o distanciamento, para dizer que a opressão e exploração no trabalho não são comuns. Como bem nos fala o Roberto Shwartz em uma conversa com a Cia do Latão, em Sampa nos idos de 2001, “corremos o risco de alguém nos dizer: e daí? So what?”. Não basta hoje apenas mostrar que não é natural as formas desumanas com que os trabalhadores são tratados. A eficácia do distanciamento estaria comprometida. A opção de termos expectadores-operários na peça é uma tentativa de aproximar as formas simbólicas do trabalho do grande público, e dar-lhes a chance de desfrutar dos bens do capital, ritmados aos sambas, à vibração da liberdade na folia do carnaval, à poesia da linguagem teatral como forma de gozar dos bens gerados pelas forças de trabalho.
Antes! A liberdade. Liberdade da alienação do trabalho. É pouco para a luta de classes? Sim, mas nossa conversa aqui é sobre o exercício. Exercício das formas, de todas que entendem a apropriação política do teatro como a base para a transformação. “formas novas”, desde sempre, ou mais especificamente desde Tchekhov ouvimos e praticamos o “novo” no teatro. Pensamos, com espetáculo Estômago, que o “novo” seja o exercício de enxergar as contradições. Pois, essa repetição pode alimentar... bem, pode alimentar!
Como vêm, o exercício de falar desta concepção é eterno. Há uma vontade de explicitar as tentativas de estabelecer a dialética nas cenas; apresentá-las de forma fácil e de bom entendimento; reavaliando e sempre restando dúvidas sobre a melhor forma. Há uma ânsia de mostrar a sensibilidade de uma personagem que acompanha as cenas narrando um dia de trabalho sob uma linguagem sensível; sob o paralelo de sua vida e relação com a natureza que é transformada a cada momento, justamente para mostrar, escancarar, que nada no mundo do trabalho é natural, mas construído, mal tratado, mastigado e engolido pelas relações de opressão e exploração.
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